Complexo Ver-o-Peso. Foro: Fabrício Coleny
Complexo Ver-o-Peso. Foro: Fabrício Coleny
Complexo Ver-o-Peso. Foro: Fabrício Coleny

Em meio a pandemia causada pelo corona vírus, o complexo encontra-se com muitos setores fechados por conta das medidas restritivas de circulação de pessoas.

Antes de tudo é preciso informar que a data de 27 de março é simbólica e foi adotada pelos usuários e organismos oficiais, mas não há registros históricos precisos sobre o início das atividades no local. O que se sabe é que a “Casa do Haver o Peso” foi instalada pela coroa portuguesa por volta de 1625, poucos anos após a fundação de Belém, provavelmente no mesmo local onde hoje se encontra o mercado de ferro, a edificação que dá nome ao complexo, que foi inaugurada em 1º de dezembro de 1901.

O complexo arquitetônico e paisagístico tem mais de 26 mil metros quadrados, com uma série de construções históricas. Todo o conjunto foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1977, como patrimônio material, incluindo o Boulevard Castilhos França, os Mercados de Carne e de Peixe, o casario, as praças do Relógio e Dom Pedro II, a doca de embarcações, a Feira do Açaí e a Ladeira do Castelo.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), as atividades econômicas do Ver-o-Peso injetam na economia paraense, diariamente, cerca de R$ 1,3 milhões, com aproximadamente cinco mil pessoas trabalhando em 12 setores do gigantesco espaço por onde circulam diariamente (em dias antes da pandemia) pelo menos 50 mil pessoas.

No complexo, o grande destaque é o mercado de ferro, que pode ser considerado como o principal cartão postal que identifica a capital paraense. É onde estão disponíveis as cores, cheiros, sabores, sotaques e costumes da Amazônia, herança das populações que formaram a região, já que historicamente o local foi criado a partir das chegadas e partidas de pessoas de lugares tão diferentes que levavam seus produtos para serem comercializados, entre frutas, ervas, peixes, carnes e caças.

A feira se formou no porto à beira da praia, na confluência do igarapé do Piri, onde até então o curso d´água desembocava no Rio Pará, na Baía do Guajará. Ao visitar outras cidades na Amazônia, em especial as localidades que ficam às margens de rios, pode-se imaginar qual a feição que poderia ter o Ver-o-Peso desde sua origem. E atualmente, mesmo no século XXI, a visão da Metrópole da Amazônia para com o lugar parece não ter se alterado, mesmo com as mudanças e inovações contemporâneas, como as grandes redes de hipermercados.

As relações na feira e no complexo continuam a se dar de pai para filho, onde a maior parte dos permissionários são filhos ou netos dos que um dia escolheram o Ver-o-Peso como local de trabalho. E muitos também foram chegando e passando a fazer parte desse local que tem a cara da Amazônia.

O aniversário simbólico é comemorado anualmente com uma gincana que reúne os trabalhadores e a partilha de um grande bolo, mas em 2021, da mesma forma que 2020, a passagem da data se dá justamente com Belém em lokdown por conta da pandemia, o que faz com que muitos setores do complexo não tenham seu funcionamento permitindo, como o tradicional setor de ervas regionais.

Mesmo nesse momento histórico pelo qual o mundo está passando, a vida continua e vai continuar sempre a pulsar no Ver-o-Peso, que é testemunha de tantos outros acontecimentos presenciados ao longo de sua existência, dentre os quais a Cabanagem, surtos de doenças e as tradicionais cheias causadas pelas “águas de março”, e mesmo assim continua a ser sempre o local onde Belém pode ser reconhecida e vivenciada.

Por: Fabrício Coleny